Eleanor & Park – Rainbow Rowell

8.1.15



No ano passado, Rainbow Rowell estava na moda. Todas as blogueiras e booktubers estavam lendo Eleanor & Park e falando muito sobre os livros da autora. Resolvi ver a sinopse do livro: dois adolescentes nem um pouco populares se apaixonam ao se aproximar um do outro dividindo quadrinhos e bandas favoritas no ônibus da escola. Hmmm, uma história fofa de primeiro amor entre dois personagens nerds? I might like that! E assim decidi ler esse romance que é sim bastante fofo, nerd e divertido, mas também bastante irritante, chato e arrastado em alguns momentos.

Como o título do livro indica, a história é sobre uma menina chamada Eleanor e um menino chamado Park. Eleanor é ruiva, tem um corpo grande e vem de uma família com problemas financeiros, o que significa que ela acaba usando roupas de segunda mão largas e bastante masculinas, que ela tenta sempre "melhorar" usando algum acessório diferente, como uma gravata no cabelo. Ela chama a atenção dos colegas, ainda mais por ser nova no bairro, e sofre bullying por isso. Park é descendente de coreano, quieto e reservado e só não sofre bullying por ser amigo do maior bully da escola. Os dois se conhecem no ônibus do colégio. O único lugar livre para Eleanor sentar é ao lado de Park, o que o deixa bastante inquieto pois ele não quer ficar conhecido por sentar ao lado da "esquisitona".

Aos poucos, no entanto, uma curiosa amizade vai nascendo entre os dois. Eles não trocam uma única palavra, mas Eleanor não consegue evitar de ler com o canto dos olhos os quadrinhos de Park. Ele percebe o interesse de Eleanor e passa a ler mais lentamente, só virando a páginas após ter certeza de que ela também já tinha terminado de ler. E assim os dois começam a se relacionar. Essa parte é a mais legal do livro e cobre cerca de um terço dele. A forma como o relacionamento dos dois se desenrola é muito fofa e especial, suas conversas também são divertidas, envolvendo rock e, principalmente, quadrinhos, como Watchmen e X-Men (adorei o momento em que Eleanor fala que acha o Ciclope muito chato, pois eu também não o suporto!)

O livro se passa nos anos 1980, então além do início do romance que é, por si só, encantador, ainda existe todo o charme e nostalgia do período em que as pessoas gravavam mix tapes umas pras outras – ainda que as histórias sejam completamente diferentes, essa pegada voltada para a música me lembrou de leve As Vantagens de Ser Invisível. Por fim, também contribui bastante com o nosso envolvimento com a história saber exatamente o que cada um está pensando, já que a narração do livro alterna entre os pontos de vista de Eleanor e Park.

Mas, quando os dois começam, de fato, a namorar e problemas começam a surgir seja pela profunda falta de auto-estima de Eleanor ou com os problemas na família dela – que é absolutamente problemática: os pais são divorciados e ela vive com a mãe e o padrasto alcoólatra e violento –, o livro perde a graça pra mim. Não que os conflitos que o livro levanta não sejam relevantes e ajudem a dar mais profundidade a Eleanor, meu problema foi a forma como a garota lidava com essas questões. Ainda que somente por um momento Park tenha dado motivos para ela realmente ter ficado chateada com ele, ele sempre demonstrou estar muito apaixonado por ela, mas mesmo assim Eleanor não conseguia superar seus próprios medos e custava a acreditar naquele relacionamento. Isso acabou por estragar a personagem pra mim. Além de ter achado bastante incoerente com a Eleanor que vemos no começo do livro, que não se importa de fazer sua própria moda ou com o que os outros vão pensar dela.

E é nesse ponto que o livro se torna brega pra mim. Quando ele dá abertura pra Eleanor ficar de mimimi, Park surge com as declarações de amor mais ridículas tipo "You can be Han Solo (...) And I'll be Boba Fett. I'll cross the sky for you" ("Você pode ser o Han Solo (...) E eu vou ser o Boba Fett. Vou cruzar o espaço por você"). Mas aí você se lembra de que se trata de um livro YA (young adult), que não foi escrito para a sua faixa etária e acaba relevando essas passagens.

A resolução do livro surgiu do nada e aconteceu muito rapidamente. Eu estava achando tudo muito triste e condizente com o rumo que o livro tomou, mas aí a autora estraga tudo com a última página do livro. Eu tive sérios problemas com Eleanor no final da trama e esse final, de fato, não me agradou nem um pouco, explico porque no final da resenha, na parte de spoilers.

Enfim, uma leitura que me deixou dividida, talvez se o livro fosse um pouco mais curto, eu tivesse curtido mais, mas ficou longe de ser um livro que eu odiei. Para um padrão de YA, está acima da média e é bonitinho e fofo a maior parte do tempo. Sobre a autora, ainda quero ter a chance de ler um chick-lit dela, muito provavelmente Attachments, que dizem ser bastante engraçado, ou Landline para ter uma opinião mais formada sobre ela. Mas pularei Fangirl sem o menor peso na consciência.

Eleanor & Park foi lançado nos Estados Unidos em 2013, chegou an Brasil no ano passado pela Editora Novo Século. A edição nacional tem 328 páginas e tradução de Caio Pereira.

Atenção! O texto abaixo contém spoilers!


Meu problema com o final do livro foi o fato de Park estar o tempo todo demonstrando seu amor por Eleanor e ela o tempo todo duvidando desses sentimentos sem motivo algum. Achei toda a viagem dos dois para a casa do tio de quebrar o coração, pois já evidencia o final da história, mas estava gostando do rumo que o livro estava tomando, pois tudo indicava que Eleanor não seria capaz de namorar com Park por muito tempo mesmo. Mas aí Eleanor se mostra ainda mais babaca e deixa Park no vácuo por um ano inteiro. O que só corrobora a impressão de que ela realmente não gostava dele, ainda mais por nunca responder às declarações dele durante a história. Desse momento em diante ficou difícil torcer para os dois terminarem juntos. Por isso que a volta de Eleanor na última página do livro, quando Park dava indícios de estar começando a superar o término do namoro, me irritou profundamente. Ela deixou ele "de reserva" durante um ano todo, pouco se importando com os sentimentos dele. Aí quando bateu uma saudade ela tenta voltar com ele? Ah, fala sério, Park não merece alguém assim.

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1 comentários

  1. Concordo em gênero, número e grau, Márcia! Você resumiu todos os meus sentimentos: Park não merece alguém assim. Excelente resenha!
    Dei mais uma chance para a Rainbow Rowell e li "Anexos". Amei o livro! <3 Acho que como o livro foi escrito para um público adulto, a Rainbow Rowell ficou mais à vontade.
    Beijo!
    Eduarda, do Maquiada na Livraria.

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