Whiplash – Em Busca da Perfeição (2014)

22.2.15


Título original: Whiplash. Ano: 2014. Gênero: Drama. País: EUA. Duração: 107 min. Direção: Damien Chazelle. Roteiro: Damien Chazelle. Elenco: Miles Teller, J. K. Simons, Paul Reiser, Melissa Benoist, Austin Stowell, Nate Lang.

Eu não vi muitos filmes do Oscar desse ano, mas não tenho o menor receio de dizer que Whiplash está entre as três ou quatro melhores produções indicadas. O filme se destaca por ter uma história simples executada com precisão, um orçamento baixíssimo – USD 3,3 milhões, o menor orçamento entre os indicados a melhor filme – e, principalmente, grandes atuações.

O filme, dirigido e roteirizado por Damien Chazelle, conta a história de Andrew (Miles Teller), um garoto apaixonado por jazz e obcecado pelo sonho de se tornar um baterista tão bom quanto seu ídolo Buddy Rich. Ele ingressa em um dos melhores e mais rígidos conservatórios de Nova York e encontra seu maior obstáculo: Fletcher (J. K. Simons), o professor mais conceituado da escola, que além de empregar métodos não ortodoxos de educação – leia-se: com abusos verbais e quase tortura física –, não dá chance para iniciantes, se um aluno não é bom o bastante é substituído sumariamente sem a qualquer chance de negociação. Tamanha pressão faz com que todos os alunos do conservatório vivam sob constante tensão e competitividade.

Porém, não há nenhuma intenção simplista por parte do roteiro de transformar Andrew no aluno inocente e esforçado que sofre nas mãos do professor sem coração. O que vemos na tela são dois personagens complexos: Andrew tem dificuldade de se relacionar com as pessoas – vide a forma como trata sua namorada – e é tão convencido da sua habilidade na bateria que cada ação sua transparece arrogância; já Fletcher age de forma doentia com seus alunos: se aproxima de forma amigável fazendo com que os alunos se abram pra ele, apenas para humilhá-los com seus segredos expostos na frente de todos se não executarem suas composições ao seu contento. Mas há algo que une os dois personagens: o amor pelo jazz. E, por mais que ambos tenham falhas de caráter bastante graves, vê-los falar sobre a música com tanta paixão nos cativa e nos faz querer acompanhar essa história.

A temática do filme, assim como a tensão crescente ao longo da história me remete a Cisne Negro (2010), o que é ainda mais reforçado pela fotografia sombria adotada por Whiplash também semelhante ao filme de Aronofsky. Inclusive, alguns eventos do filme me levaram a crer que seu desenvolvimento seria semelhante ao drama vivido por Nina, como a inveja sentida de Andrew por um colega baterista, que além de ser o favorito da turma, é popular, tem namorada e fala mal de Andrew na sua frente, algo semelhante à relação de Nina com Lily. Além disso, durante o filme o perfeccionismo do protagonista o leva a diversas atitudes auto-destrutivas, tal qual a personagem de Natalie Portman, sem falar que ambos têm professores frios e cruéis. Mas as semelhanças acabam aí, já que Whiplash mantém o pé na realidade e segue um caminho diferente de seu "irmão", digamos assim.

O filme é bastante intenso e como filmado quase em sua totalidade em ambientes fechados, a sensação de sufocamento de Andrew diante de suas limitações e das cobranças de Fletcher se tornam ainda mais angustiantes. Destaque para a exaustiva sequência em que o professor tenta encontrar um baterista que saiba executar uma música no tempo certo: três alunos de Fletcher se revezam, se esforçando ao máximo até o esgotamento de suas energias. Quando finalmente um deles consegue, compartilhamos do alívio dos três de tão angustiante a situação que vivem. Outro momento maravilhoso é uma conversa franca de Fletcher com Andrew sobre seus métodos de ensino, que levanta o questionamento de que talvez suas intenções sejam nobres e coerentes.

A montagem de Tom Cross também é maravilhosa, imprimindo muita agilidade e ritmo em um filme que pede isso pois é essencialmente musical. A sequência final é deliciosa com cada corte feito em cima do compasso da música e retratando o funcionamento de uma orquestra com a apresentação individual de cada instrumento em seu momento de maior destaque. Além disso, a cena é tão divertida que apesar de longa, não causa tédio, e só por esse momento Tom Cross já mereceu sua indicação ao Oscar de melhor edição.

Whiplash também concorre a melhor ator coadjuvante para J. K. Simons, melhor roteiro adaptado (o que é surpreendente, considerando que o último trabalho de Chazelle foi o fraco Toque de Mestre, de 2013) e melhor mixagem de som.

Bom, já deu pra ver que eu gostei do filme, né? Whiplash é um filmaço e uma grande inspiração pros estudantes de cinema, pois trabalha com pouco, em condições bastante restritas e, mesmo assim, entrega um filme excelente. Vou ficar na torcida pra ele levar alguma estatueta no Oscar hoje.

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